segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ruídos silenciosos

Sem querer saí do trabalho e caminhei até a praia. Sentei na areia e fiquei olhando o mar, a maneira como as ondas quebravam ora rápidas, ora lentas bem próximas a mim. Movimentos desuniformes, embora candenciados, cheios de ritmo.
Você é assim. Pura harmonia, soneto, poesia encutidos sob a pele, poros e células.Teus acordes foram compostos para completar as minhas letras. O teu riso é o que se segue do meu. Na tua íris se escondem todos os meus medos.
Um copo transbordado. Toques. Um copo vazio.
 Você veio, você se foi e voltou, exatamente como as ondas sempre se perdendo na areia. Tu foste o meu deserto. Infinito.
Era o blues do meu jazz, mas a trilha acabou, sobraram apenas setlists espalhados pelo chão, um Marshall desligado e uma palheta solitária nesse nosso palco.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Desenhando teus fiéis retratos

A menina remexia curiosa na caixinha de memórias, procurava por vestígios. Encontrou um palito quebrado, caído em meio a tantas coisas espalhadas. Lembrou-se do dia em que o conheceu, da forma dos seus olhos e sorriu. Pôs de lado.
Revirou a caixa mais uma vez deparando-se com papéis de chocolate amassados e cheios de segredos. Abaixou a cabeça balançando-a numa expressão de lamento. Deu um suspiro longo e avistou a velha palheta preta toda arranhada pelo tempo, carregando a maior parte de suas lembranças, todas contidas ali, num pequeno pedaço de plástico escuro. Ao lado, a letra de uma canção que dizia: "The first thing I'd do is thank the stars for all that I am... If I were you". Nesse momento, o filme da sua vida passou devagar e detalhado, ela o viu tocando suas músicas favoritas e sorrindo, deslizando as mãos leves e hábeis pelas cordas do violão, dedilhando-as astutamente e descobrindo novos acordes. Um músico, dominador da arte dos sons. Era compositor às terças, exímio mestre às quartas e exibia todos os seus talentos às sextas...maiores, menores, justas... Amante de jazz, inimigo do new wave do Oasis.
Ela o amava, mas o viu desaparecer exatamente como o final da escala. Num instante, pegou o telefone e pensou em ligar. Hesitou. O que iria dizer? As mesmas frases clichês de sempre? Melhor não, reagiu.
E qual seria a resposta?
Dele só restavam saudade e a esperança de vê-lo voltar entrando pela porta, com o rosto adornado pelo velho sorriso e pelas notas tantas vezes sussuradas ao pé do ouvido. Segurando a fotografia, a garota contornou os traços do rapaz com os dedos, sorriu, guardou-a e fechou a caixa. 
Texto produzido em 2OO9.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O amor supera (quase) tudo, não é?

Quem aí acredita verdadeiramente no amor levanta a mão. É por isso quase todo mundo ergueu o braço, visto que as pessoas têm mania de acreditar naquilo que nunca viram: políticos honestos, Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e a Hebe Camargo jovem. Enfim, segundo Camões essa sensação é fogo que arde sem se ver, ou seja, apenas um cego vai saber como é.
Não adianta bancar o Geraldo Majela, porque o tal sentimento não vai aparecer na sua vida. Porém, sempre há um babaca adepto da frase clichê "o amor é igual ao vento; não se vê, mas sente". Resumindo, se esse vento for do tipo Katrina eu estou perdida. 
Certa vez conheci um cara estilo protagonista de filme: alto, moreno, corpo bronzeado, forte - e nem estou falando de ex-BBB, hein?! - então, decidi me declarar dizer o quanto a paixão muda os destinos. Ele balançou a cabeça positivamente me abraçando e selando o momento com um beijo. Que homem perfeito! Só depois eu soube, pobrezinho era surdo.
Outra coisa que chama a atenção são as redes sociais atingindo diretamente os relacionamentos, antes não existia isso, agora o Orkut determina a vida amorosa dos outros. Se o "status namorando" sumir, a crise está decretada. Por outro lado, se os amigos começam a desaparecer, alguém está te deletando da lista ou sendo obrigado a isso, embora tal atitude não tenha o mínimo de sentido. 
O site não é oráculo da fidelidade, ele não escolhe quando um dois vai trair e nem apaga memórias vividas ao lado de pessoas do passado, mesmo você acreditando na vã filosofia  do "amor supera tudo". Se me considerar uma ameaça virtual por qualquer motivo - terrorismo, desvio de dinheiro, roubo de carros entre outros -  tem o direito de clicar em "remover amigo", já que isso o amor não pode fazer, ainda não atingiu esse estágio de superação.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Inverno flamejante (Parte I)

Áustria, Viena, 12h05min.

Ainda calado, Scott preparou uma dose de uísque e sentou-se no sofá para ver TV tentando se livrar do frio. Não conseguiu se concentrar, estava mergulhado no trabalho, era corretor de imóveis e passava a maior parte do tempo ao telefone com seus contatos. Ficou “zapeando” os canais e não achou nada interessante. Tomou o celular nas mãos e discou.

 - Alô?
- Alô, Audrey? Sou eu Scott.
- Ah, oi como está?
- Bem, fiz mal em ligar?
- Não, estou feliz com sua ligação.
- Que bom! Olha, eu andei pensando, gostaria de jantar comigo hoje à noite?
- Vamos fazer melhor, eu peço o jantar e você me faz companhia na suíte, que tal?
- Perfeito! Às nove?
- Combinado. Até mais tarde.
- Tchau.

(Ligação finalizada)

Jens, o irmão mais velho estava parado na porta com os braços cruzados ouvindo. Disfarçadamente, deu uns passos para trás evitando que Scott sentisse sua presença.

Sala de estar do apartamento de Jens, 20h30min.

 - Vai sair, Scott?
 - Sim, tenho um compromisso daqui a pouco.
 - Vai ver a bela advogada de ar sisudo e seios fartos?
 - Ah, não…É…Não...Não importa!
 - Estou mentindo por acaso? – Disse rindo com ironia.
 - Me dê as chaves do carro, por favor.
 - Claro, são suas. Juízo. Mulheres têm o dom de nos fazer perder a cabeça.

Scott revidou a risada irônica e saiu. A caminho do hotel, ele colocou uma música para pensar em como seria o encontro. Perfeito, pensou.
Dirigiu até o estacionamento, parou o carro e acionou o alarme. Entrou no saguão, respirou fundo, caminhou até a recepção, acertou os detalhes da visita e sua entrada foi prontamente liberada para a suíte.
No elevador, olhava para os lados tentando se livrar da ansiedade. 

Hotel Ambassador, suíte de Audrey, 21h05min.

Scott apertou a campainha e deu um suspiro forte e breve. Audrey abriu a porta.

- Está cinco minutos atrasado – Brincou.
- Era o trânsito e minha ansiedade juntos, fusão terrível. – Rebateu sorrindo.

Antes que pudesse se ater a qualquer outra coisa, ele fixou o olhar naquela mulher de cabelos levemente ondulados, soltos na altura das costas emoldurada por um lindo vestido de cetim lilás.

- Está linda!
- Não seja galanteador antes da hora, cavalheiro. – Sorriu.
- Só a verdade. – Retribuiu sorrindo e fazendo uma reverência com as mãos.
- Vamos, entre! O jantar nos espera.

Scott atravessou a suíte observando a harmonia das curvas de Audrey dentro do vestido. Imaginou poder arrancá-lo ali mesmo. 


(Continua...)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Entre outras coisas trágicas

O ano de 1996 foi histórico, marcado por tragédias. Morte dos integrantes da banda Mamonas Assassinas, do Renato Russo, queda do Fokker 100 da Tam entre outras. Mas a maior catástrofe da minha vida foi entrar para a 5ª série. Naquela época, encerrar o ciclo do ensino básico e ingressar no ginásio significava tornar-se mais adulto, fazer-se visto e ser relevante. Com a idade avançando eu precisava me adequar de qualquer maneira dentro dos padrões conseguindo assim popularidade, amigos descolados e a certeza de não desenvolver um trauma permanente que me transformasse em uma jornalista de blog no futuro, pelo menos achava isso.
Tudo corria bem até a chegada do – bendito - outono e junto dele a febre das jaquetas jeans. O grunge consolidava sua passagem memorável pela trajetória da música e trazia consigo um exército de moderninhos enjaquetados com a logomarca da Hard Rock Cafe estampada nas costas fazendo propaganda de várias cidades importantes no turismo mundial. Foi despertado em mim o desejo intermitente de participar dessa massa consumista e não ser excluída pelos adolescentes estilosos. A peça símbolo da cadeia de restaurantes temáticos converteu-se numa espécie de requisito chave na hora de aceitar o novo membro no grupo de alpinistas sociais.
Se você tivesse uma poderia ser considerado alguém, caso contrário nem sabiam seu nome. Comecei então cogitar a hipótese da Hard Rock Cafe tentar o dominar o mundo ajudada por milhões de soldados uniformizados a caráter. Provavelmente estaríamos diante da batalha do século, uma sociedade dividida entre influenciáveis e rebeldes seguidores do socialismo de Marx, o “Muro de Berlim” humano. Já imaginou se a moda ditasse regras desse tipo ainda hoje? As coleções seriam lançadas a cada cinco anos e os estilistas milionários da máfia têxtil, todas as redes de lanchonetes e derivados entrariam na onda. A Starbucks seria a campeã atual até mesmo entre os que odeiam café. Vou parar porque está na hora da minha terapia. Certos abalos psicológicos não se curam só na base do tempo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Mãe, eu tô na internet!

Aposto uma alma que o Diabo - não - quer

Acabei de assistir clipe "Nightmare" do Avenged Sevenfold e devo dizer: eles realmente têm talento! O enredo do vídeo é uma homenagem ao ex-baterista The Reverend, falecido no final de 2009. Trata dos "pesadelos" humanos; a loucura e seu mal escondido, mas ao mesmo tempo demonstra ser uma espécie de relato, talvez sobre a morte do integrante da banda.
Na época, vários boatos surgiram pela web dizendo que The Rev teria feito um pacto demoníaco - pra variar! - em troca de sua banda alcançar o sucesso. As causas do boato eram simples: ele esteve exatos 10 anos em atividade musical, morreu com a mesma idade de grandes ídolos da música e praticamente da mesma causa. Na lista do "Clube 27" encontramos personalidades como Robert Johnson, Janis Joplin, Kurt Cobain, Jimi Hendrix, Jim Morrison e Brian Jones um dos fundadores dos Rolling Stones. Toda essa lenda sobre pactos da encruzilhada e sucesso repentino nos fazem pensar se é uma obra maligna ou mera coincidência, pois todos esses músicos eram bons em sua profissão, únicos, cada um a sua maneira e, tornaram-se mitos. Porém aí entra o racíocinio lógico. Por que apenas os caras fodas é que têm parte com o Diabo? Por que só eles morrem de causas consideradas diabólicas? Os ruins só morrem. Percebeu?
Deixa eu exemplificar para ficar mais claro. Muitas bandas e artistas surgem do nada, fazem um sucesso estrondoso e ninguém imagina tal grupo ou membro dele fazendo um acordo com Lúcifer. Vejam o Cine. Ué, por que não? Saíram do além usando calças coloridas, cantando músicas bizarras e conseguiram ser considerados uma revelação.
Isso sim é parte com o demônio! Se daqui há 10 anos o DH - mania de abreviar nome! - bater as botas, eu duvido, du-vi-do que qualquer pessoa ouse dizer: Esse cara fez um pacto para ter fama! Não vai, o subconsciente está programado para rotular até isso. O 'menininho do amor', não faria uma coisa dessas, faria? Todo mundo pensa: Não, nunca! Só Janis, Kurt, Hendrix são adeptos disso aí . Toda essa conversa sobre almas vendidas é mera coincidência, embora eu ainda ache que "Luci" só negocia com gente mais capacitada, não vai manchar sua reputação à toa. Se o Cine compactuasse com alguma criatura maligna, a boneca assassina da Xuxa dava conta.
Exemplo claro de possessão